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Ceilândia 43 anos: Quebrando o paradigma do preconceito


Ceilândia 43 anos: Quebrando o paradigma do preconceito Ao ouvirmos parte da mídia do distrito federal se referindo de Ceilândia nos deparamos ainda, depois de 43 anos, com o uso de um linguajar arraigado, para não dizer "preconceituoso". Quando noticiam determinados fatos que se valem do uso de preposições “na Ceilândia” ou “da Ceilândia”, ao invés de se expressarem ao referirem aos fatos se utilizando de preposições inclusivas e que potencializam a autoestima de sua gente como “em Ceilândia” ou “de Ceilândia”. Chega-se a crer que esta forma persistente de se referir à cidade se deve ao fato de que certas redações dos meios de comunicação no Distrito Federal ainda carregarem no seu imaginário aquela visão da Campanha de Erradicação de Invasões, a famosa CEI, ação desenvolvida no período dos governos militares que tinha por objetivo transferir as esquálidas "invasões", que “ameaçavam” o plano da bela Brasília, para lugares bem distantes do poder. Mergulhando na história vimos que Ceilândia é fruto do sonho de pessoas que desejavam e desejam dias melhores. Vizinha de Taguatinga e Samambaia, suas irmãs, Ceilândia têm uma população que gira em torno de 600 mil habitantes, na sua grande maioria nordestina, sendo o maior aglomerado humano do Distrito Federal. Ceilândia dispõe de um dos mais ativos mercados de consumo da região Centro-Oeste, além ter um colégio eleitoral que se tornou elemento decisivo para as eleições majoritárias no DF. Ademais, é celeiro de personalidades marcantes na cultura, na moda, no esporte, na política e no empreendedorismo. Apesar de todas essas qualidades, ainda insiste em não se reconhecer assim. Não bastasse isso ainda há os querem reconhecer o que a cidade representa, sobrepujando sua atual realidade por uma pauta passada e baseada em fatos, negativos, que não mais existem no seu atual contexto, gerando, ainda, uma serie de pretextos e preconceitos quanto ao que ela representa atualmente. A construção da referência “na Ceilândia” ou “da Ceilândia” impregna e gera no imaginário coletivo da população, principalmente no ceilandense, uma baixa autoestima, reproduzindo nas suas mentes uma insignificância, uma inexpressividade, somenos, ou seja, de menor valor que a outra. A cidade Campanha de Erradicação de Invasões (CEI), instituída pelo governo local em 27 de março de 1971. Hoje é dividida em diversos bairros como: Ceilândia Centro, Ceilândia Sul, Ceilândia Norte (esses três primeiros, juntamente com parte da Guariroba, formavam o setor tradicional, cujo projeto original é em formato de barril), Guariroba, setor P Sul, setor P Norte, Setor O, Expansão do Setor O, QNQ, QNR, um distrito Industrial, material de construção e parte do Incra (área rural da cidade), Setor Privê e Condomínios próximos Pôr do Sol e Sol Nascente(que se encontram em processo de regularização). Todos juntos formam a comunidade com maior concentração de costumes culturais nordestinos no coração do Brasil. Ao longo desse processo de “marginalização” a que foi submetida à cidade, que teve sua construção composta por cidadãos que vieram do Morro do Urubu, IAPI, dentre outros, antiga periferia da cidade livre, atual Núcleo Bandeirante. Destaca-se que o termo marginalização é utilizado para definir o estado de ser marginal, marginalizado, colocado a margem, viver na periferia. O somatório de questões fez brotar um preconceito que se estende até aos nossos dias e impregna todas as questões que envolvam a população no seu exercício diário de cidadania. Um exemplo disso, que ainda persiste, é quando ceilandenses vão buscar uma colocação no mercado de trabalho e informam o seu local de residência, há uma certa expressão de “espanto”. Esquecem eles que os “marginalizados” foram os responsáveis pela construção do sonho que hoje é realidade para todos nós, Brasília. Foi a vinda destes cidadãos e cidadãs de todas as partes do país que propiciou o sonho da Capital da Esperança. Junto a esse contingente de sonhadores se encontravam os nordestinos que se se tornaram ceilandenses crendo que o sonho era possível e se tornou realidade. Falando desse processo de “menosprezo”, lembra-se da musica Cidadão do cantor e compositor Zé Ramalho: “Tá vendo aquele edifício moço, ajudei a levantar, foi um tempo de aflição, era quatro condução, duas pra ir, duas pra voltar. Hoje depois dele pronto, olho pra cima e fico tonto, mas me vem um cidadão, e me diz desconfiado, tu tá aí admirado ou tá querendo roubar" E o compositor vai mais além na sua observação quanto à visão que se tem dos que vivem nas periferias. Esta visão normalmente é gerada pelo desconhecimento da vida diária dessas populações, seu passado de lutas e potencial de superação, veja: “Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer, tá vendo aquele colégio moço, eu também trabalhei lá, lá eu quase me arrebento, fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar”. Aos que ainda insistem e se posicionam ao falar “na Ceilândia” ou “da Ceilândia”, por desconhecer a sua atual realidade, ou por falta de informação ou por usar informações requentadas pelo tempo, relatando a cidade pela CEI e não pela pujante "lândia", ou seja, moramos “em Ceilândia”, somos “de Ceilândia”. Para demonstrar o que representamos, só para exemplificar, Ceilândia responde, hoje, pelo maior quantitativo global de arrecadação, 25% do ICMS arrecadado no DF. Fica aqui o desafio, vamos presentear Ceilândia no seus 43 anos, quebrando o paradigma do preconceito profundamente enraizado no imaginário das pessoas. “Em Ceilândia” sua população está de coração aberto para receber você, faça uma visita e conheça a atual realidade da cidade. Clemilton Saraiva Presidente Associação Comercial de Ceilândia - ACIC Fonte: Comunicação Social - ACIC

Notícia publicada em: 24/03/2014